Acabando novembro, mês da consciência negra, surgiram umas reflexões... Embora não seja eu quem deve definir o que é e o que não é o movimento negro, uma nova modinha, porque eu não consigo enxergar de outra forma, tem inundado as redes sociais: a tal da consciência humana. Me incomoda um pouco, hoje, pensar em consciência humana. Por que tentar a todo custo mudar o nome de uma das conquistas do povo negro, e quem está tentando mudar isso? Por que essa insistência em tirar o foco do negro? Acredito que falta criticidade a uns e falta vergonha na cara a outros. Vergonha na cara sim! Muitos não têm! Um povo branco (como eu!) que está sob uma montanha de privilégios (como eu!), gritando la de cima que o que deve ser celebrado é a consciência humana! Me poupe! Sendo que muitas dessas pessoas sistematicamente humilham e oprimem o negro nos mais diversos setores sociais. O negro não tem representatividade na grande mídia (o que pode não parecer grave {pra quem se vê todos os dias na novela, nos comerciais de maquiagem, nos filmes, nas revistas, etc...}, mas é traumático, principalmente para as jovens negras), é perseguido em estabelecimentos comerciais, sofre bullying por conta de estética (sou professor, e convivo com professores e alunos {muitas vezes também negros} maldizendo da estética dos alunos negros {na minha adolescência cultivei um cabelo black power, e ouvi demais que aquilo "não combinava com minha personalidade" Ah vá, me engana que eu gosto, racista! O incômodo era por que minha pele é branca, mas meu cabelo é crespo!}), é alvo de piadas constantes e é morto pela polícia... a lista não tem fim! Como existe coragem e cara de pau pra defender consciência humana numa sociedade que mata PREFERENCIALMENTE os negros? Os jovens negros! Eu apoiaria essa tal consciência humana se eu enxergasse essa bondade dos nossos "nobres" plutocratas, artistas, jornalistas e "gente comum" que defende essa ideia. Não vejo. Vejo preconceito atrás de preconceito, e, mais uma vez, uma tentativa desesperada de fingir que a opressão ao negro não existe. A constante tentativa de colapsar qualquer avanço que o negro tenha, após séculos de luta e sangue, conseguido erigir. A escandalosa valorização da opinião do branco, mesmo que estando ele lutando contra o racismo, diante da desvalorização da palavra do próprio negro! Retrato do que estou tentando expressar, é a repercussão negativa que uma mãe negra tem ao falar do preconceito que seu filho negro sofre, confrontante com a repercussão positiva que uma mãe branca tem ao falar do preconceito que sua filha negra sofre.
Disponível em: http://cantinhodadiversidadejoao23.blogspot.com.br/2015/11/exposicao-de-trabalhos-consciencia-negra.html |
Se você defende essa tal de consciência humana, ponha a mão na sua consciência. Você realmente acha que (mesmo que você seja uma pessoa decente, minimamente humana, e de fato respeita e enxerga o negro como igual) o negro é tratado como igual? Será mesmo que você não enxerga que você (branco) é tratado com honrarias e gentileza em estabelecimentos comerciais, enquanto o negro é olhado com desconfiança? Você não enxerga MESMO? Ponha um "óculos moral", tenha empatia, deixe a celebração do dia da consciência negra continuar negra, e enxergue a sua consciência, quanto branco, de que nós (brancos) percorremos o caminho da vida com muito mais facilidade. Enalteçamos o passado glorioso e a riqueza cultural presente do povo negro! Interrompamos imediatamente a noção imagética de que falar de consciência negra é representar o escravo! Não é!
Eu realmente respeito o protagonismo de cada sujeito dentro de sua classe/situação/essência (sei la), mas não pude deixar de me indignar com esse novembro negro embranquecido. (Ainda não sei o que pensar do negro que defende esse papo de consciência humana, mas o espaço abaixo está aberto à discussão e à defesa do ponto de vista de cada um). E essa é só a minha opinião.
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