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Professor por amor... CHEGA DESSE DISCURSO REPRESSOR!

          Professor não é Tio. Professor não trabalha porque ama. Professor não está cumprindo com uma missão. Professor não "aguenta tudo". Esses e vários outros argumentos são importantes mantenedores de um movimento repressor que mantém o profissional professor lá embaixo, na condição de quem aceita tudo, e alimentam a ideia de que "tudo bem" estar na condição de uma profissão que não remunera bem, que não oferece uma estrutura confortável e estável.. É visto com naturalidade que um professor não seja bem remunerado, por que afinal, "quanto amor e dedicação", não é mesmo? Ensinar desde cedo as crianças a chamar os professores de "tios" ("tias", na maioria das vezes), viabiliza o enraizamento, na cabeça dessas crianças (e futuros adolescentes, e futuros adultos), que aquele indivíduo ali na frente do quadro pode ser tratado como um parente próximo, benevolente, paciente, e que por mais que seja desrespeitado e desvalorizado, voltará com um sorriso no rosto aos seus "amados sobrinhos". Veja bem: eu sou educador e gosto de ensinar. Não estou dizendo que não devemos apreciar nosso trabalho. Devemos! Mas você ouve por aí esse discurso referindo-se aos médicos? Aos engenheiros? Contadores, administradores, dentistas, advogados, etc? Não! Esse papinho de amor coloca o professor quase na obrigação de não reclamar da sua situação. E quando existe reclamação, ainda aparecem os sabidos que nunca pisaram numa sala de aula na condição de professor, dizendo que professor reclama de barriga cheia, que são preguiçosos que só fazem greve. Sacanas! Nós estudamos tanto quanto outras graduações, às vezes mais, e temos um salário ridículo! Então aqui vai o meu recado: quer me parabenizar? Ótimo, obrigado, tudo tem seu dia, hoje em dia, né? Obrigado mesmo. Mas e meu salário? Você tá pronto pra reclamar com os políticos lá na próxima eleição sobre a péssima condição da educação? Ou vai continuar nessa de que "nossa, professor ama mesmo o que faz, né?". Vamos retratar o professor como um profissional que tem direitos, deveres e limites de paciência! Professor não aguenta tudo, e não merece receber pouco para cumprir com suas obrigações desgastantes, estressantes, muitas vezes traumáticas. Lidamos com vidas, com futuros, tanto quanto um médico, por exemplo. Mas quando um parente passa em vestibular de medicina, parece que é um herói, um semideus do olimpo. Vai passar num vestibular de licenciatura pra você ver o desgosto estampado na cara das pessoas, vai! Desvalorizados desde o início, essa é a verdade. Cansei.
‘A última xicrinha de café’: os latino-americanos se despedem do professor Girafales
Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/17/cultura/1466173809_143268.html
Minha opinião é essa aí, e a sua?

Comentários

  1. Parabéns Filipe, vc além de competente possui um posicionamento compromissado com a classe. Muito bom! E tio/tia é o escambal rs

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