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O que falta é Empatia

          "Tempos difíceis virão", disse Dumbledore a Harry Potter quando a ameaça do soerguimento de Voldemort estava pairando sobre o mundo. Se você não conhece o mundo criado por JK, aconselho a conhecer, mas não faltará explicação aqui: Voldemort é um personagem movido pelo desejo de ser único, imbatível e imortal. Quando Voldemort esteve em sua plena forma, perseguia os demais personagens, que não tinham seu "sangue" e, na cabeça dele, seus "direitos". Ele perseguiu, matou e torturou essa parcela da população e todos aqueles que tentavam defendê-los. Infelizmente, vejo paralelos entre essa história e o mundo real, e como eu vivo nesse mundo real, vivo me preocupando. 
          Especificamente no Brasil, existe uma crescente de pensamentos "voldemortianos", se me permitem o neologismo, com a brutal diferença de que, aqui (e por enquanto), a maioria desses seres arrogantes não tem o aval para usar armas (mas essa questão de armamento fica para uma outra ocasião). O que quero dizer aqui é que as pessoas estão com uma estranha noção de que "se eu quero, todos têm que acatar" e de que "se eu acredito, é verdade", e de que "minhas vontades são meus direitos", dentre outros egoísmos. Esses pensamentos são jogados ao ar em diversos meios de comunicação, e se espalham rapidamente, como fogo em palha seca. Admitamos, somos um povo inflamável (ou seria uma espécie inflamável?), e os discursos de ódio, amplificados pelas redes sociais, alcançam milhões. Quase todo mundo adora ter um "judas pra malhar". É sempre fácil odiar. Enquanto isso, uns e outros se aproveitam dos milhares revoltosos para fazerem-se poderosos, assim como Voldemort, e tentam eliminar aqueles que são contrários a suas ideias. O pior é que basta nascer em condições/regiões/países/religiões/sexualidades/cores/sexos diferentes dessas pessoas, para ser alvo de perseguição. É assustadora a facilidade com a qual alguns vomitam seu ódio na internet, e muitos, infelizmente, por trás de argumentos religiosos, salvíficos, profiláticos. É bizarro que cristãos, por exemplo, achem "ok" a tortura e morte de ladrões e defendam o porte de armas de fogo. É contraditório que "cidadãos de bem" cometam atrocidades com as mulheres a vida inteira, e ensinem essas atrocidades aos meninos, desde cedo. É doloroso pensar em quantos LGBTs sofrem a vida inteira, muitas vezes fisicamente, pelas mãos de parentes. Acho que estamos sob tempos sombrios e difíceis, existe gente poderosa com esse tipo de pensamento, e mais deles ainda querendo chegar ao poder - o cenário político nojento dá espaço a eles. Respaldados pelas mazelas sociais, cresce um conservadorismo, uma religiosidade autoritária. O fascismo cresce nesses períodos. 
Disponível em:
https://www.facebook.com/ControversialFiles/photos/a.286757518077282/1509731335779888/?type=3&theater
       
          A esperança de dias melhores existe, mas é difícil de incutir na cabeça destas pessoas egoístas, assim como Voldemort. Empatia. Colocar-se no lugar do negro que é perseguido e discriminado a vida inteira. Colocar-se no lugar do pobre que não tem oportunidades e não tem um sistema de ensino eficiente e não tem estrutura familiar e não tem bons exemplos... e termina muitas vezes na criminalidade. Colocar-se no lugar da mulher que vê monstros na rua, porque é o que os homens muitas vezes representam. Colocar-se no lugar do LGBT, que apenas tem uma maneira de viver diferente da deles. Colocar-se no lugar. Na minha opinião, empatia, somente, curaria essa sociedade, pra virem dias melhores no futuro. Mas como se ensina empatia? Eu não sei. Mas sei que se exercita. Se você que está lendo é uma dessas pessoas opressoras, cruéis, maldosas, ainda há tempo de mudar, de melhorar. Só não sou eu nem ninguém que vai abrir sua cabeça e colocar isso dentro de você. Tem que partir de dentro. 

          E essa é minha opinião, somente, não precisa me odiar por isso.

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